Rita Cleós (em 1958) ao lado de Samantha, personagem que dublou em exatos 207 episódios de "A Feiticeira"
01. Então a Rita foi sua irmã, Monica. Ela teve muitos irmãos? Como era o seu nome completo de batismo?
Monica Schadrack: "Nome completo: Rita Schadrack. Teve 3 irmãos mais novos."
02. Conte-nos, por favor, sobre a família de Rita e sua infância. É verdade que ela morou por bons anos na Alemanha?
M.S.: "Com seus pais e seu irmão York, mudou-se para Alemanha um mês antes de romper a Segunda Guerra Mundial. Sem condições de retorno permaneceram lá durante 8 anos, sofrendo misérias, fome e terror. Quando finalmente retornaram ao Brasil apenas com a roupa do corpo, (pois perderam todos os bens na Alemanha); recomeçaram a vida com grande sacrifício e um sentimento de pesar e luto causados pela perda de um irmão (Olavo Schadrack) ainda criança na Alemanha, devido à guerra. Assim Rita passou sua infância na Alemanha, retornou adolescente sem nenhum nível escolar, pois durante a guerra as escolas não funcionaram naquele país."
03. Rita se casou ou teve filhos?
M.S.: "Seu casamento durou 5 anos e não teve filhos" (com o também ator Guilherme Corrêa, falecido em 2006).
04. Sabemos que ela começou sua carreira artística na década de 1950, participando de filmes. Foi aí que ela deixou Blumenau?
M.S.: "Sim, deixou Blumenau com poucas aulas particulares de português e outras matérias básicas. Deixou Blumenau por não suportar cidades pequenas. Começou sua vida em São Paulo trabalhando num Hospital como auxiliar em enfermagem. Foi aí que ela se dedicou a estudar teatro iniciando sua carreira artística."
05. Na Internet, seu sobrenome artístico é grafado como Cléos e às vezes como Cleós. Qual é a forma correta? E você sabe nos contar por que Rita escolheu esse sobrenome artístico – há algum significado especial?
M.S.: "A forma correta é Cleós. Originou-se de uma peça de teatro na qual ela interpretou Cleópatra com grande sucesso. Este nome foi escolhido para ela, pelos colegas e diretor."
Rita em 1965, quando protagonizava a novela
"O Cara Suja", na TV Tupi
06. Na década de 1960, Rita atuou em muitas novelas. Aproximadamente entre 1962 e 1966, esteve na TV Tupi. E entre 1966 e 1970, na TV Excelsior. Como ela lidava com o seu merecido sucesso?
M.S.: "Com grande satisfação, pois foi a forma de compensar sua infância dramática e início de carreira no qual batalhou com grande dificuldade para se manter e desenvolver sua carreira."
07. Nessa mesma época ela se iniciou na dublagem, onde também construiu uma longa e bem-sucedida carreira. Na Arte Industrial Cinematográfica de São Paulo trabalhou por 10 anos, entre 1962 e 1973, dublando muitas personagens. Quando Rita estava com a família, o que ela comentava sobre seus trabalhos? É verdade que, além de dubladora, foi também tradutora?
M.S.: "Passava minhas férias escolares em São Paulo e assisti a muitas de suas gravações ensaios, e colaborava com ela para decorar muitos scripts. Observei muitas vezes que havia no ambiente de trabalho entre colegas uma grande rivalidade, pouca honestidade, injustiças e traições. Houve anos em que ela estava bem, em plena glória e outros em que passava miséria. O ambiente artístico consegue ser muito cruel.
Rita não era mansa, pouco tinha de submissa, teve um gênio forte, de guerreira mesmo. Lembro-me pouco desta época, pois sou 18 anos mais jovem que ela. Era muito garotinha, mas lembro que os ensaios e gravações eram exaustivos e muitas vezes iam pela madrugada adentro. Rita gostava do seu trabalho apesar de tudo e representar para ela, era vida.
Ela era tradutora sim, de filmes e livros. Traduzia inglês, alemão, italiano e um pouco de espanhol. Línguas que aprendeu estudando sozinha."
Rita em 1966, época em que atuava em novelas
e dublava simultaneamente
08. Revistas antigas dão conta de que Rita sofreu um acidente em 1964, que a deixou com cicatrizes no rosto, na vista esquerda e um caco de vidro preso nos lábios por quase um ano, até que em agosto de 1965 realizou uma cirurgia para resolver o problema. Como foi esse acidente?
M.S.: "Foi um acidente de carro na Serra de Caraguatatuba. Motivo: pé pesado, adorava correr. Tanto que me dava náuseas ao andar de carro com ela."
09. Sabemos que, na década de 1970, Rita continuou dublando e também participou de peças famosas como a montagem de “Constantina”, em 1977, no Teatro Brigadeiro em SP, além de ter feito um filme em 1979. Rita continuou morando em São Paulo? Ela e a família se viam muito nessa época?
M.S.: "Rita via pouco a família, vinha pouco à Blumenau, pois havia mágoas e coisas mal resolvidas. Na época de Constantina ela estava ligada ao Kardecismo, e era fácil lidar com ela. Na mesma época faleceu nossa mãe e Rita deu à ela muito apoio e nos tornamos ainda mais amigas. Com toda sua família era comigo que mais tinha afinidades."
10. Já nos anos 1980, sabemos que Rita participou do filme “A Noite das Depravadas” (1981) e da minissérie “Maria Stuart” (TV Cultura de São Paulo, em janeiro de 1982). Depois disso ela participou de mais trabalhos no meio, ou resolveu abandonar a carreira artística?
M.S.: "Depois de 1982 ela resolveu abandonar a carreira artística devido ao intenso estresse e se mudou para Ilha Bela, onde trabalhou como tradutora e gerente de Hotel até 1988, quando se mudou para Curitiba."
11. Foi após isso que ela se mudou para Curitiba – PR? Sabe por que ela resolveu ir para essa cidade já que, pelo que sabemos, sua família estava em Blumenau – SC?
M.S.: "Rita não gostava de Blumenau e mudou-se para Curitiba porque a vida na Ilha Bela estava monótona demais, além de estar insatisfeita com seu trabalho no Hotel. Escolheu Curitiba para ficar mais perto dos meus três filhos que eram seus afilhados. Ela tinha verdadeira paixão pelas crianças, os chamava de “os meus douradinhos”. Ela fazia tudo por eles. Era festa quando ela vinha à Blumenau, as palhaçadas eram incríveis e ela adorava interpretar com eles peças de contos infantis no meio de muitas outras brincadeiras.
Muitas vezes foi como uma mãe para mim, foi amiga e confidente e em outras tantas foi a avó que meus filhos não conheceram."
12. Sabemos que Rita faleceu em 21 de maio de 1988, aos 56 anos, em Curitiba. Como estava sua saúde nos seus últimos anos? E como foi a sua partida?
M.S.: "Na verdade, Rita faleceu em 25 de abril de 1988, aos 57 anos. Nada sabíamos de sua saúde.
Decidimos em família, nada mais revelar sobre o assunto de sua morte, pois na época a imprensa humilhou seu corpo, desrespeitou e desonrou suas condições após o falecimento. É muito dolorido para nós relembrar tais fatos. Assim seu grande público terá dela as melhores memórias."
Agradeço muito a Eduardo Schadrack, sobrinho de Rita, pois foi por meio dele que realizamos esta entrevista. Agradeço imensamente também à Monica pelas preciosas respostas e revelações feitas a nós, fãs e admiradores da saudosa Rita Cleós e seu trabalho. Aos dois o nosso muito obrigado pela boa vontade e atenção para conosco!
Veja Rita bem jovem atuando no filme "Macumba na Alta", produzido em 1958:
Aqui um vídeo onde ela dubla Samantha na nossa grande série:
Já aqui, ela dublando uma convidada especial em um episódio da série "Perdidos no Espaço":
E aqui ela dublando em "Spectraman", um de seus últimos trabalhos em dublagem:
Espero que tenham gostado de saber mais sobre a eterna Rita Cleós, uma grande e inesquecível profissional do nosso país a quem aplaudiremos sempre!
7 comentários:
Caracas amei a entrevista =), e está de parabéns
Oi Marcia, que bom que gostou!
Muito obrigado!
Um abraço.
Foi emocionante ler a entrevista com a irmã de Rita que morou em minha cidade e eu nem sabia. Foi como assistir novamente aos episódios da época. Obrigado por esse presente.
Fico contente que tenha gostado desta entrevista, Carlos Alberto!
Obrigado pelo comentário,
abraços.
Parabéns pela entrevista, amigo! Eu nunca soube nenhuma notícia sobre essa talentosa atriz.
Sensacional sua entrevista Thiago! Sempre quis conhecer a dubladora da Feiticeira! Uma pena q morreu tão jovem! Será lembrada sempre em nossos corações! Ela é eterna e insubstituível! ^^
Parabéns pelo resgate. Bacana manter viva a história dos mestres da dublagem. è uma carreira linda, mas pontuada e altos e baixos.
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